10 de dezembro de 2009

Sete-galo: a herdeira legítima da Moto do Século XX

FONTE: http://www.pirex.blog.br/category/cronicas/

Com meia dúzia de motos no currículo e rodando em uma Honda CB 450SR (leia sobre ela no artigo A primeira Citizen Band), eu já não me considerava um novato no mundo das duas rodas: corria para o final a década de 1990, um novo século se avizinhava e aquela vontade de trocar de moto, tão conhecida dos motociclistas, mais uma vez apontava na curva.

O bolso, naturalmente, não concordava com a vontade e os prognósticos para o ano 2000 eram assustadores: segundo alguns especialistas do setor, o bug do milênio poderia provocar, entre outras tragédias, uma falha nos sistemas de distribuição de energia elétrica, nos levando a uma nova era das trevas. Pelo sim, pelo não, resolvi fazer aquela correria de sempre – vende moto daqui, arruma um empréstimo dali – para tentar comprar aquela que carregava o mítico quatro em linha debaixo do tanque de combustível.

Momento History Channel

No distante ano de 1976, o Ministério da Fazenda do Brasil, na tentativa de proteger a indústria nacional, proibiu a importação de vários bens considerados supérfluos – e a Honda CB 750 (para quem, reza a lenda, o termo superbike foi criado), sucesso de vendas, era um deles. Durante a próxima década, as CBs 400 e 450 seriam as nossas motos de alta cilindrada.

Em 1983, a Honda apresentou no Salão de Paris a moderna CBX 750 F, herdeira direta da CB 750, por quem os brasileiros precisaram esperar durante 3 anos: em abril de 1986, com o fim da reserva de mercado, desembarcou no Brasil o primeiro lote de sete-galo (tradução livre de seven-fifty, com o fifty substituído por galo, que corresponde ao número 50 no jogo do bicho).

Apesar da espera, a maioria dos motociclistas não teve condições financeiras para bancar o valor da CBX com o ágio que triplicou o seu valor original, fazendo com que ela fosse vendida por pouco menos de US$ 30 mil e recebesse o apelido de “750 mais cara do mundo”.

De volta com a nossa programação normal

Como dizia eu antes do interlúdio cultural, o in-line four há muito me fascinava, mas o saldo no banco recomendava fortemente que eu não cometesse essa loucura. Sem ter muita certeza do que fazer, eu passava por ela, analisava os prós e os contras, pensava nos juros do cheque especial…

Atesto e dou fé:

Um homem pode resistir a tudo, exceto à tentação.

O namoro foi – como diz um ditado gaúcho – “curto como coice de porco” e certamente abreviado por um escapamento 4 em 1 que fazia o motor de exatas 747 cc urrar: se eu tinha alguma dúvida sobre adquiri-la ou não, ela desapareceu no momento em que ouvi o som único que a sete-galo produz. No caminho para casa, feliz por ter adquirido um ícone do motociclismo mundial, me lembro do que pensei em voz alta: “Finalmente! Um 4 canecos na minha mão!”.

Além da lembrança do lindo ronco do quatro em linha, também me recordo claramente o quão chuvoso foi aquele inverno; a cada banho sobre ela (era meu único meio de transporte, por supesto), eu pensava nos belos dias de sol que eu perderia se a trocasse por um carro – e quando o longo inverno entregou os pontos, desfilei com a minha Honda CBX 750 F Indy verde escuro (apesar de constar preta como a cor predominante no documento) por entre a muvuca das praias gaúchas. Tinha valido a pena, afinal.

Se hoje em dia os 82 cv atingidos a 9.500 rpm já não impressionam (a título de comparação, a Suzuki GSX-R 750 2009 atinge 150 cv a 13.200 rpm), naqueles tempos o conjunto da obra – motor refrigerado a ar que gerava 6,5 kgf/m a 8.000 rpm, câmbio de seis velocidades, peso seco de 229 kg, tanque de 22 litros e pneus 100/90-18 na dianteira e 130/80-18 na traseira – criou uma legião de admiradores (e orgulhosamente me incluo nessa categoria) que seguem reverenciando o modelo.

Atualmente me alegra pensar que tive como companhia por muitos quilômetros a herdeira legítima do modelo que recebeu da imprensa especializada mundial o título de Motocicleta do Século XX. Não é pouca coisa, camarada.

Mais informações:

Honda CBX 750 F - 1988 a 1992

Honda CBX 750 F - 1986 a 1988

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